A engenheira Ana Carolina Santana, gerente de procedimentos de conexão em redes de distribuição na Noale Energia, apresentou durante o Fórum Regional de Geração Distribuída (Fórum GD Sul),em março, um caso prático que demonstra como foi possível reverter uma limitação de injeção de apenas 5 kW para 375 kW em um projeto de geração distribuída conectado à rede elétrica.Segundo a especialista, a solicitação inicial feita por um cliente industrial previa a injeção de 375 kW na rede de distribuição. No entanto, a distribuidora autorizou inicialmente apenas 5 kW, alegando a ocorrência de inversão de fluxo – situação em que a geração de energia em um ponto da rede supera a carga consumida, gerando riscos à estabilidade do sistema.A equipe da Noale Energia, por outro lado, adotou uma abordagem técnica e regulatória para contestar a limitação, baseando-se em normas da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), especialmente na Resolução Normativa nº 1.000/2021. Santana explica que entre os dispositivos utilizados como base legal estão os artigos 22, 69, 73 e 78, além de diretrizes do Prodist (Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional).O processo, por sua vez, envolveu uma série de etapas, incluindo a solicitação de estudos técnicos detalhados por parte da distribuidora, análise da memória de massa do cliente, topologia da rede e parâmetros operacionais dos alimentadores vizinhos. A engenheira destacou a importância de solicitar dados públicos que as distribuidoras são obrigadas a fornecer, como curvas de carga, limites operacionais, perfis de tensão, modelagem de energia reativa e a própria topologia da rede elétrica.Entre as alternativas previstas pelo artigo 73 para mitigar a inversão de fluxo, destaca-se a reconfiguração de circuitos, o remanejamento de carga e a conexão em circuito alternativo. Neste caso específico, foi a segunda alternativa que permitiu o avanço da solicitação. Após sucessivas análises, a distribuidora identificou um alimentador vizinho com capacidade ociosa de 181 kW, sem risco de inversão de fluxo, viabilizando a extensão de rede e a conexão do sistema do cliente, segundo a especialista.A proposta final aprovou a injeção dos 375 kW, com um custo estimado de R$ 15 mil. Segundo a engenheira, a solução não gerou custos adicionais ao cliente e foi oficialmente homologada em março de 2024. O caso exemplifica como o conhecimento técnico e a compreensão da regulação podem ser determinantes na viabilização de projetos de geração distribuída em redes com limitações.Santana reforça que a atuação técnica aliada ao respaldo regulatório acaba essencial em casos como esse. “Quando compreendemos como a rede se comporta e quais são as obrigações da distribuidora, conseguimos encontrar caminhos viáveis e justos para todos os envolvidos”, afirma.O caso ganha relevância em um contexto de crescimento da geração distribuída no Brasil, sobretudo em áreas onde a rede já apresenta sinais de saturação. A transparência nos processos e a correta interpretação da legislação são apontadas como elementos-chave para que consumidores e empresas consigam concretizar investimentos em energia limpa e descentralizada.Veja a palestra completa da especialista pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=Wryc9cyeYl8.